4.4.10

Uma licença, por favor...



Meu lar é o botequim da esquina, como diz o verso de Flor do Lodo, cantada por minha queridíssima Cristina Buarque. O Patriota, do meu amigo Alemão, fica numa esquina. Escondida, é claro. Isso o torna um oasis no inferno. Porque? Porque carrega uma tranquilidade dos tempos áureos do Tatuapé. O Tatuapé dos carcamamos, sicilianos, italianos mil, dos operários, do futebol de várzea, das padarias centenárias e tanta coisa que o tempo guardou apenas na lembrança. Uma realidade bem diferente da atual. Tudo bem. Os tempos mudam, as coisas evoluem e blá,blá,blá. Tudo isso é sabido. Mas, saudade não faz mal à ninguém. E o Patriota, tem tudo isso. Sossego. Sossego tão raro...

Tem também cachaça boa, tem um maracujá decente, tem uma feijuca aos sábado que é uma loucura, tem um anfitrião, Alemão,  que é uma figura, sem contar na Telminha, amiguinha querida de sorriso largo quase sempre, e na D. Elza que, chama os bêbados de filho, pois os conhece desde que bebiam nada mais que lentinho quente, no peito!, é importante frisar. O dono, como em todo bar que se preze, oscila entre o bom e o mau humor com desenvoltura. Não pode ser diferente, senão não é um bar de verdade. O coração, é de mãe. Isso, é! Porta sempre aberta para um amigo ou para um desconhecido bem intencionado. Tem os bêbados clássicos. Aqueles que debruçam sobre a mesa, em transe. Tem aquele que não pára quieto, de um lado pro outro, sempre com as perguntas mais descabidas e fora de hora. Tem o boa praça que, apesar da marcação serrada da mulher, sempre arruma um jeito de ficar mais um pouquinho. Tem os quietos, que apenas observam, cuja ausência do silêncio de suas faces, fazem uma falta danada. Tem os que são os últimos a sair e os que nunca vão embora. Tem que os que chegam dos cantos mais distantes da cidade, pra discutir a rodada da semana, a última notícia, o tempo. Tem a solidão de pé no balcão. Tem o choro e o desabafo, na moita, claro. Tem o carro importado e a brazuca remendada com arames. Não tem mais cigarro. Não pode. Tem mesa na calçada, quando o sol e a chuva permitem. Tem abraço forte, aperto de mão também. Tem sorriso tímido, amigo novo.

O amigo que lê deve estar pensando que tudo o que descrevi aqui, tem em outros lugares também. E eu, concordo. No que eu respondo que, tudo bem. Outros bares também tem. Mas, é que o Patriota, bem... o Patriota é o meu bar. Senão encerra a questão, ao menos justifica, mesmo que o amor, verdadeiro, não peça justificativas.

Renato Martins

2 comentários:

  1. Que coincidência. Foi exatamente isso que eu pensei quando fui pra lá. As mesmas palavras!
    hehehe...

    Abraço, Alemão!
    Abraço, Renato!

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  2. Muito bom o texto kkkkkkkkk legal abraço a todos!!!

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